Babaçuê/Culto Babassuê/ Batuque-de-Santa-Bárbara/ Batuque-de-Mina.

O Babaçuê ou Babassuê ou Batuque-de-Santa-Bárbara ou Batuque-de-Mina  como é chamado por  alguns adeptos  é um dos cultos fetichistas afro-brasileiros encontrado principalmente no Pará e no Amazonas . Não existem referências à palavra como designação de culto religioso popular brasileiro.

Em suma como foi descrito por Aurélio Buarque de Hollanda, a expressão Babaçuê como “substantivo masculino (Brasil, Amazônia, Folclore), é uma  espécie de culto popular em que normas de origem africana se misturam à pajelança amazônica.

É considerado como uma das Religiões afro-brasileiras por ser um tipo de candomblé mestiço, também chamado de Jeje-Nagô, onde são cultuados tanto Orixás como Voduns.

A curiosidade e  importância desse culto destaca-se  por ser de matriz africana com fortes elementos   Amazônicos  além de  deixar claro que no Pará , não  existe apenas uma pajelança negra ( Terecô)  que se formou  a partir da migração de maranhenses para Belém (Capital do Pará) e cercanias em meio ao apogeu da extração da borracha  ,  um culto com raízes africanas já coexistia desde antes da chegada dos negros Jeje Maranhense a capital Paraense.

O Babaçuê é possivelmente uma corruptela de “Bárbara Soeira”, nome pelo qual o Terecô maranhense também é conhecido.

A Missão de Pesquisas Folclóricas enviada ao Norte e Nordeste pelo Departamento de Cultura da prefeitura de São Paulo SP, chefiada por Luís Saia, recebeu em 1938 a informação de que a palavra se origina de Barbra (Bárbara) Suera — divindade ou espírito ( equivalente a Iansã/Santa Bárbara ) cultuado em religiões afro-brasileiras do Maranhão em especial no Terecô e Tambor de Mina .

Ademais em pesquisa  registrada pela Missão de Pesquisa Folclórica em Belém do Pará  segundo Oneyda Alvarenga (1950) “se vê que esse batuque de Santa Bárbara, batuque de mina, candomblé, e talvez ainda pajelança, funde tradições religiosas negro-africanas, nagôs e jejes (seu elemento básico, possivelmente), a crenças recebidas da pajelança amazônica, culto de inspiração ameríndia, cujo correspondente mais franco é o catimbó nordestino e nortista”

Através dos cânticos gravados pela missão, pode-se notar que esse culto agrupa tradições religiosas negro africanas, nagôs e jejes, bem como crenças recebidas da pajelança amazônica.

Nesse sentido, ele seria talvez aparentado aos cultos fetichistas de formação nacional- Catimbó, Jurema Sagrada, Umbanda, Toré, Encantaria dentre outros.

As danças rituais constituem a parte mais externa e pública do culto, e são realizadas ao som de instrumentos de percussão e cânticos — através dos quais os deuses são invocados e homenageados. Através das danças, as entidades sobrenaturais se apossam dos iniciados e assim participam dos ritos.

As Entidades :

Como no Tambor-de-mina e o Terecô, o Babaçuê se baseia na tradição Jeje (fon) de culto aos voduns, porém, também é realizado o culto aos orixás (tradição nagô), em especial Iansã (orixá dos ventos e protetora das mulheres, sincretizada com Santa Bárbara) e Xangô (orixá dos raios e da justiça, protetor dos homens).

Além de Voduns e Orixás, cultuam-se os “caboclos” ou “encantados”, ou seja, os espíritos dos ancestrais indígenas. Narra Carneiro (2014):

Segundo o relato de Alvarenga (1950), o Pajé Sátiro ( Sarcedote da religião )  afirmava que em Belém existiam três linhas de culto africanas: a Cambinda, trazidas pelos primeiros que chegaram à cidade (Provavelmente Cativos Kimbundos) ; A Nagô , que veio depois; e a Jeje que chamava o batuque ( culto realizado aos moldes que conhecemos como religião de matriz africana) pelo nome de “tambô di mina”

A autora segue durante toda a sua obra descrevendo atividades realizadas por Sátiro em sua casa, e chama atenção em seu texto para o fato de que na pajelança de Sátiro, o pajé negro, não haver uso ou referência à pena e ao maracá.

Ela procura destacar que, mesmo invocando espíritos como o de Japetequara (um velho índio que mora nos matos da Ilha do Marajó), Sátiro cultua os Voduns Jeje, “entidades trazidas pelos escravos africanos do antigo reino do Daomé”.

Esse registro das atividades de Sátiro nos permite perceber que as práticas de pajelança no Pará apresentavam um outro elemento marcante, além da hegemonia da figura do índio Pajé e do caboclo Pajé, há o negro Pajé que introduz na configuração da pajelança amazônica elementos africanos.

Alvarenga parece querer estabelecer que o resultado da amalgamação (fusão) de religiões africanas e de cultos praticados pelos índios da região deram origem a pajelança amazônica, chamada de Babaçuê por Sátiro, assim sendo  constitui elementos de uma  religião primitivamente brasileira.

Maria  Audirene de Souza  CORDEIRO;, afirma  ‘’ O Babaçuê  teria a base de todas as crenças brasileiras, construída com a predominância de elementos negros e índios”

O Babaçuê é esse caldeirão de modalidades de cura , ritos fetichistas e com a presença marcante da pajelança e de religião de matriz africana , registradas nas terras baixas que desde há muito desafiam a nossa capacidade de percepção e compreensão.

Referências

Enciclopédia da Música Brasileira – Art Editora; Missão de Pesquisas Folclóricas.

https://super.abril.com.br/historia/12-religioes-afro-que-se-espalharam-pelas-americas/

Doutrina de Babaçuê https://www.youtube.com/watch?v=8vDHHtBPz60&t=13s

CAMPELO, M. M. Os candomblés de Belém – o povo de santo reconta a sua história. In: X Encontro de Ciências Sociais no Norte e Nordeste do Brasil. 2001. Salvador, Universidade Federal da Bahia. CAMPELO, M. M. Relatório de Pesquisa I: Candomblés de Belém – O povo-desanto reconta a sua história. 2001. Belém, Departamento de Antropologia, Universidade Federal do Pará

CAMPELO; DE LUCA, Marilu; Taíssa (1 de junho de 2007). «As duas africanidades estabelecidas no Pará» (PDF). Revista Aulas: Universidade Federal de Campinas. Consultado em 21 de maio de 2017

 CORDEIRO;, Maria Audirene de Souza (3 de junho de 2014). «Pajelança e Babassuê: as faces do Xamanismo amazônico no final do século XIX» (PDF). 29ª Reunião Brasileira de Antropologia (Natal/RN, 2014). p. 11. Consultado em 21 de maio de 2017

https://super.abril.com.br/historia/12-religioes-afro-que-se-espalharam-pelas-americas/

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